quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Sobre sorrisos em tempos difíceis

E quem imaginaria
Qualquer que fosse o dia
Ter que argumentar
Contra esses impropérios
Ditos por bocas sujas
Em esquinas antes vazias

O grito ganhou voz
Enquanto diálogos caíram
Farpas são nostalgia
Agressões as intimidam
Mesmo dores doídas
Se escondem sob aflição

A autoconsciência cala
Percebendo o perigo ao lado
Mas há brechas por aí
É preciso acreditar e lembrar
Não há luta sem cessar
Sorrir é necessário para reagir

Hailton Andrade

Timidez laureada

Lógica não é meu forte
Assim de antemão me desculpo
Uma vez ou outra faço isso
Raros são momentos como esse
Às vezes sequer os percebo

Por isso te dou este papel
Indo atrás do meu instinto
Para dizer que você é linda
Antes do meio dia e também depois

Rindo igual rio de águas rasas
Natural até nas mechas verdes

Hailton Andrade

Soneto da tentativa

A saída repentina de casa
Doeu a dor do partir
É como não saber a razão de ir
Embora o preceder seja farsa

O alívio não demora a agir
Logo senti o cheiro da rosa
E embarquei em uma boa prosa
Tudo passou a fluir

Decidi então a hora de fugir
Seria meses depois de estar ali
No lugar onde todos querem subir

Vi nascer a primeira asa
E o que era sofrer demoli
Encontrei a luz na minha musa

Hailton Andrade

Parte do alfabeto

Mar meu mundo
No navio naveguei
Os olhos orbitaram
Para paraísos pertinentes
Quando queriam quereres
Roubar raízes raras
Sabendo sobre sóis
Trabalhando tabus turvios
Uivando uvas usuais
Valendo velas verdes

Hailton Andrade

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Rotina

Despertei ainda com sono. Levantei para ir ao banheiro. Bebi água logo em seguida. Era 7h20 e, após 20 minutos, voltei para cama. Não demorei a dormir. A cortina do meu quarto me ajudou a imaginar que o dia havia terminado ao evitar a entrada de raios do sol pela janela. Quando o sono acabou de verdade o dia alcançava sua metade e o relógio marcava 12h. Levantei outra vez e repeti o ritual. Sentei no sofá e liguei a TV. Sem perceber, abocanhei meu sanduíche de queijo e mortadela. Pouco a pouco bebi a taça de café. Zapeei, mexi no celular e logo vi que já eram quase 15h. Perdi três horas do dia e não me lembrava o que acabara de fazer. Decidi lavar os pratos acumulados do dia anterior. Coloquei música no celular e o tempo passou. Tomei banho e pouco depois vi o ponteiro do relógio chegar às 18h. Meus pais chegaram do trabalho. Conversei duas palavras com eles antes de cada um ir fazer o que tinha de fazer. Eu fui o primeiro a sair da sala. Jantei. Assisti ao jornal e me entreguei ao celular mais uma vez. O dia chegou às 22h. Era hora de fazer algo, ser produtivo. Enquanto pensava, o relógio me assustou. O dia acabou. Eram 2h da manhã e o sono voltou. Mais um dia passou e eu nem percebi. Será que amanhã também será assim?

Hailton Andrade