quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Lua amarela

Gosto da lua e amarelo é minha cor favorita
Eis que uma terça-feira resolve me presentear
Passo o dia a sorrir
Faço doces mulheres felizes
Aumento minha tola esperança
Amanhã tudo se repetirá
Ah, como é bom acreditar
Até a lua se amarela para me calar
Que maravilha
O dia é esse
É quando eu quiser

Hailton Andrade

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Desabafo

O semblante é de cansaço, total desgaste. Os dias começam e terminam todos iguais e vazios. Nem posso dizer que a rotina virou conforto. Na verdade, é mais estresse, agonia, ansiedade ou fraqueza. Os pelos saem do rosto mais rápido do que antes e formam uma barba deformada, como a de um indigente ou de alguém que nada quer. Meus pecados não são cometidos, mas condenados. Acusações sem razão me atingem e tornam-se risos alheios.

Cansaços físico e mental nada são perto do desgaste da paciência que sempre me acompanhou. A estrada é meu Jardim do Éden e me dá tempo para reflexão, embora eu tenha dormido na maioria das viagens. Trilhas que enjoam. Preciso de novos ares. A Europa cairia bem, mas Bom Jesus dos Passos bastaria. Não posso gastar meu tempo com lamentações, mas admito que já não tenho o fôlego de um menino de seis anos de idade. Por mais que me achem jovem pelos 21 anos que vivi, possuo um espírito velho de uma pessoa que não teve a complacência da vida. Mas eu tive e tenho. Sou hipócrita? Talvez, mas não posso estalar os dedos e esquecer tudo para tomar um novo rumo.

A fórmula da salvação para esse suicídio mental-físico vagaroso é deixar o egoísmo de lado. Os outros são importantes e têm problemas maiores que os meus. Preciso apequenar minhas angústias e é isso que vou fazer. Só não sei quando, pois é necessário o suporte de algo. Aliás, alguém. Não sei onde encontrá-la. Vou procurar, rezar pra achar e esperar esse encaixe.

Hailton Andrade

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Aula

Não sei o que escrever
Não consigo raciocinar
Só penso em pessoas
Nunca no saber

Estou cansado
Nada faço
Nada farei
Tudo acabou

Morri no texto
Ou ele cansou-se de mim
Fugiu para além do pensar
Num mar de pessoas eu fiquei

Hailton Andrade

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Dança amarga

Êta... o que pode ser feito?
O que sai do meu peito?
Quero dançar

Mas não consigo sem par
E só há uma mulher
Com a qual posso bailar

Ela, no entanto, se nega
Teme se apegar
Tudo é culpa do passado em vão

Hailton Andrade

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Decisão

Se a rotina permitisse
Degustaria a realidade com delicadeza
Assim suavizaria atitudes

Antes havia tempo
De vez em quando era tudo
Segundos são de nada

Dois ônibus, uma quinta e uma sexta
Algumas bebidas e mulheres
Labuta não incendeia

É assim toda semana
Sem perspectiva de mudar
Tenho que mandar brasa ou me danar

Hailton Andrade

domingo, 18 de julho de 2010

Poeta morto

Um amigo meu parou de escrever
Até achei que escondia, mentia
Mas já faz um ano e nada de poesia

Acho, falta-lhe alegria
Enganchou-se na bebida e foge de um grande amor
A vida tornou-se uma chatice para ele

Já não levo fé nesta volta qual ele sempre diz ser iminente
Não existe ex-poeta
Poeta que deixa de escrever é poeta morto

Bem, no fundo eu acredito
Ainda hei de ler seus escritos novos
Afinal, sou seu amigo

Hailton Andrade

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Amor proibido

Nunca e nada se querem
Amam-se tanto que nunca tentaram nada
Sabendo que o amor deles machucaria outros
Nunca se viu tanta bondade
Nada como sofrer por amor
Nunca tiveram nada
Nada podem fazer

Nunca cantei
Nada terei
É de amor que hei de morrer

Nunca se deixaram
Nada passavam
É de dois que falamos

Um amor proibido
Daqueles que se completa
Fazem do mundo um lugar mais belo

Um elo entre o nada de sempre
E o nunca de tudo
Nunca mais falo desse amor
Pois nada vai me trazer
A não ser aquele sofrer

Hailton Andrade

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Tinto, mas suave

O vinho me dá um sorriso amarelo
A verdade é que estou infeliz
Sempre acompanhado, nunca agradado

Falta-me violão, um só amor e a velha canção
Poesia já tenho, mas só me serve como cachaça
Assim fico de porre e a ressaca só atrapalha

Uma vez sim, segunda não
A afasia se aproxima
O vinho acabou

Hailton Andrade

PS: Participação especial de Mitchell Almeida, que fez o penúltimo verso por telefone, sabendo apenas qual era o último.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Um gesto diz tudo

De um lado, o abraço
Timidez é o algoz
Ou será não querer?

Há carinho sim
Amor, eu não sei
Só precisa ser recíproco pra saber

Enquanto houver recusa
Estática será qualquer opinião
Caso ande, surgirá ardor ou dor

Arrisca-se
O medo é devaneio
Só adia o que vai ocorrer

Hailton Andrade

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Fantasia do Tatu

Aquela sombra qual libertei de manhã
Voltou para me assombrar à noite
Por isso, eu tive que sair

Perco o medo na violência das ruas
Aumento a coragem por dia terminado

Sei menos agora
A preguiça é a mesma
Disperso, só eu

Minha garganta secou
E as veias transportam álcool
Não posso me esconder

Hailton Andrade

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Quem é você?

Surgistes de repente
E sem pretensões aproximou-se
Um sorriso sereno e sedento por amor mostrou-me

Ah, se soubesses o quão bem me fez
Dessemelhante Bahia
Nosso amparo virou

Do papo público criamos uma janela aberta só pra nós dois
O que é isso, eu não sei
Admito que gostei

Hailton Andrade

sábado, 10 de abril de 2010

É só uma poesia

A chuva é oportuna
Se acordo e durmo
Há coisas semelhantes que não faço mais

O corriqueiro às vezes fenece
Mas não é surpresa para mim
Sabia e rejeitava o fato de sorrir

Erro foi acreditar no sempre
Impossível rimar amor e dor
Um ou outro, por favor

É que mágoas, se havia, vamos apagar
Cada um tem um rumo
É hora de se alegrar

Olhar prum futuro
Todo dia se aprende
Este é meu lema vagabundo

O amor é diferente, mas ainda verdadeiro
Nunca há de exaurir-se
Seja feliz, eu vou torcer

Hailton Andrade

domingo, 7 de março de 2010

Curta

Ah, senti saudade
Pela primeira vez
Quem é você?
Que faz doer meu coração
É certo, não vou te ver
Os encontros vão silenciar
Nada pode haver

Hailton Andrade

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Coisas do tempo

Aquele velho amigo
Não vai mais ao bar
Hoje tu vais sozinho
Novos parceiros fez por lá

Ele cresceu e viu outras coisas
Mas ainda é aquele companheiro
Que te seguia e vivia a admirar

Teu jogo, tua bebida, o anti-fumo
Ele lembra de tudo
Mesmo que não o faças lembrar

É, meu querido
Ele é teu filho
E há de sempre te amar

Hailton Andrade

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

À Procura

Sou um poeta
Busco na música minha inspiração
Onde estão todos os ensinamentos

Não posso esquecer as origens
Meus primeiros versos
As estrofes de três linhas

Sou um poeta
Quero ser músico
Ainda não me achei

Falta melodia no meu samba
Ou bossa, mpb, sei lá...
Só tenho letras, tenho algo

Hailton Andrade