quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A moça bonita e o covarde

Hoje eu vi a moça mais bonita do mundo. Pensei em dizer ao menos que seus cabelos são os mais belos que já vi, mas como de costume eu fui covarde e nada falei. O fato é que eram. Jamais vi ondas tão perfeitas, com balanço tão poeticamente ritmado. Não seria leviano afirmar que nem o mar conseguiria imitar a dança natural que aqueles fios negros faziam. Difícil notar imperfeições tão acertadas quanto aquelas, as ondas. Mesmo sem tocá-las, pude saber pelo olhar que a maciez daqueles belos cachos lisos não se comparam. Nem a neve mais primavera ou a areia mais fofa simulariam tanta delicadeza. No rosto, faltou apenas o sorriso. É compreensível, porque ela riria sem motivo dentro de um ônibus depois de uma famigerada segunda-feira sem uma praia para relaxar? Nada disso pode ter passado pela cabeça dela, mas gosto de imaginar que ela goste do mar. Se por um lado não havia riso, pude notar que nela existe maturidade com lancinantes expressões de ingenuidade. Ah, ela é mesmo a mais linda. Na volta para casa, não me sai da cabeça o arrependimento. Eu deveria ter dito alguma coisa, por mais que fosse me sair um idiota. O que vale é que no fundo seria verdade. Talvez até toda essa prosa tivesse um final feliz. Não que um romance fosse surgir, mas provavelmente a história seria mais interessante para contar. Aqui só posso descrever a beleza de uma moça, que sequer sei precisar a idade, e a falta de atitude de um cara sem coragem como eu. Para mim já não importa. Esse pensamento logo sairá da minha cabeça. Há o lado positivo, pois vi aquela que é a mais bonita do mundo, como disse lá no começo. Disso não posso me gabar, é verdade, mas também não posso só lamentar. Eu a vi, de verdade. Se um dia eu tiver sorte, quem sabe não a vejo de novo. Só espero que caso isso aconteça eu esqueça que hesitar é pior do que errar. Arrependimento por falta de ação incomoda bem mais. Caso vejam a mais bonita, me avisem. Vocês vão saber quem ela é, a moça mais bonita do mundo.

Hailton Andrade

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Olhos, agonia e atenção

Meus olhos ardem
Como se me contassem algo
Chamando a minha atenção

Parece que estou perdendo algo
Eles viram, mas eu não
Me passei na mudança

Perdi alguma coisa
Agora tento descobrir em vão
O que será que aflige minha visão

Doer não dói, dá agonia
Suporto, mas lamento
Nem posso perguntar

O que aconteceu?
Sei não, nem vou saber
A única espera é pelo fim do arder

Hailton Andrade