domingo, 19 de agosto de 2018

Enganando o tempo

Passavam das quatro da tarde quando ela chegou. Abri o portão com o sorriso de sempre. Sabia que do outro lado da porta outro me esperava. Não demorou muito para nos beijarmos. Foi ontem que nos vimos pela última vez, mas cada tempo longe um do outro pode se assemelhar a uma eternidade. Deixamos muito tempo passar no passado, não queremos repetir o erro agora.

Agora estamos no sofá. Do beijo da porta ao beijo de agora não sei o que houve. O tempo dá seus saltos. É como se os pequenos intervalos entre um chupão e outro não tivessem valor. São conexões inertes de uma dimensão alternativa. A dimensão escolhida por nós é a do beijo, abraço e sexo.

Estamos perdidos entre a realidade de ontem e do amanhã. Para a gente, felizmente, só há o agora. Presentemente estamos vivendo como poucos vivem o presente: intensamente. Sei que somos reféns eternos do momento, olhando com saudade do passado e sentindo certo otimismo pelo futuro. Mas nunca estaremos na nostalgia ou na projeção. Nosso tempo é do momento. Outro beijo.

Dedico o meu presente a ela, ela dedica o dela a mim. Assim tentamos enganar o tempo e dizer que aquilo é só nosso. No fundo ele ri e se deixa passar. Logo estou abrindo o portão para que ela possa ir embora. Um último beijo antes do próximo. O tempo o guarda em algum lugar no futuro. Pode ser que alguma porta volte a se abrir. Pode ser que seja eu a entrar. Pode ser que não haja porta. Só o tempo sabe. Nos resta, no agora, esperar.

Hailton Andrade

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