domingo, 25 de agosto de 2013

Entrevista "resgatada"

Tive a oportunidade de entrevistar um dos meus maiores ídolos da música em 2010, antes de um show dele em Salvador, no TCA, ao lado do grupo MPB-4. Foi uma apresentação e tanto. Antes, tive a chance de acompanhar a passagem de som e falar pessoalmente com ele: Toquinho. Infelizmente, durante a mudança do portal iBahia em 2011, essa entrevista se perdeu pela web. Por mais que encontre o link, não consigo abrir o texto. Não faz mal. Como costumo guardar as coisas por bastante tempo, achei o email na minha caixa de entrada com a entrevista salva e resgato aqui. Pra completar, anexo um vídeo que fiz lá no TCA. Só este ano já vi dois shows de Toquinho em Salvador. O terceiro vem aí... Quem sabe não rola uma nova entrevista. A antiga tá aí!

Toquinho, há quanto tempo você não faz um show em Salvador? É o mesmo período sem pisar em terras baianas?
Tenho ido quase todos os anos a Salvador. Quando passa um tempo maior, sinto falta da convivência com essa terra mágica e de sua gente cheia de requebrado. Logo estaremos por aí curtindo essa atmosfera iluminada e calorosa. Estive aí no TCA em outubro do ano passado para um evento corporativo. 

Como surgiu a ideia de fazer este show junto ao grupo MPB4 e gravar o disco?
Surgiu há uns três anos, de uma forma até casual. Abriu-se uma oportunidade para um show e eu queria mostrar algo diferente. Sugeri ao grupo essa nossa junção num espetáculo, e eles toparam logo. E desde o primeiro show, o público passou a vibrar com o repertório e com a maneira intimista com que desenvolvemos o show, apresentado em muitas cidades do país. 

E a reação do público, é muita coisa boa pra se recordar, né?! 
O público gosta de ouvir e de cantar junto os grandes sucessos da MPB. E o que não falta no show são sucessos, verdadeiros clássicos da música brasileira que fazem a vibração conjunta, tanto de nós, artistas, quanto da plateia. É uma delícia.

Neste show dos 40 anos de música, o repertório é bastante variado. Tem Dorival Caymmi, Chico Buarque, Vinicius de Moraes, músicas voltadas para o público infantil... O público baiano pode esperar alguma surpresa, algo especial, deste show no Teatro Castro Alves (TCA)?
Nunca se sabe, às vezes depende do próprio público. Temos material de reserva tão bom quanto o apresentado durante o espetáculo.

Aqui em Salvador, você passou algumas temporadas. Além de compor canções, fez belas homenagens à capital baiana. Qual a sua relação com a cidade? Mantém muitos amigos? A capital pode ganhar mais uma música do Toquinho?
Já vivi momentos lindos aí em Salvador, principalmente durante a parceria com Vinicius. Fizemos grande parte de nossas músicas inspirados por essa atmosfera mágica da Bahia. Foram situações especiais de muita descontração e alegria ao lado de amigos também especiais. Creio que se tiver oportunidade de permanecer aí por mais tempo, certamente nascerá alguma canção.

A canção mais famosa relacionada a Bahia é, sem dúvida, Tarde em Itapoan. Até hoje, em meio aos novos ritmos que tomaram conta de Salvador, se ouve essa música por aqui, principalmente na própria praia. Como foi fazer essa música? De quem partiu a ideia?
“Tarde em Itapoan” é uma de minhas melhores composições. Foi com ela que conquistei a confiança Vinicius. Um poema lindo, que eu vi, já pronto, e o Vinicius ia dar para o Caymmi musicar. Eu o convenci de deixá-lo comigo, e demorei muito para compor a melodia. Queria que parecesse que o poema tivesse sido feito para a melodia. E consegui, sem mudar uma vírgula do poema! È uma canção obrigatória em todo show.

Falando em Vinicius, é impossível pensar em Toquinho e não lembrar do Poeta, com quem passastes tanto tempo da vida e fizestes uma grande amizade. Quais ensinamentos dele você carrega contigo no dia a dia?
Além de sua coerência diante da poesia, Vinicius era muito responsável com horários e compromissos. Isso aprendi com ele. Outra coisa: ele adorava o palco, sabia como prender a atenção da plateia, a hora da conversa, a hora do uísque, da música, sempre fazendo charme. Também aprendi com ele esse domínio do palco durante o espetáculo. Ele me ensinou, inclusive, um profundo respeito pela humanidade.

Bem, você teve como principais mestres do violão o Paulinho Nogueira e o Baden Powell. Claro, adquiriu muitas das características dos dois, mas surgiu daí o seu estilo próprio. Como poderíamos definir o jeito Toquinho de tocar? E outra, o senhor tem compartilhado tanto conhecimento com algum jovem músico?
Paulinho foi meu grande mestre e um amigo inesquecível. Sempre tive Baden como um ídolo, de quem eu tentava extrair os mesmos efeitos ouvindo seus discos durante horas seguidas. Depois tornamo-nos amigos e acabamos até fazendo shows juntos. Creio que meu estilo se formou da junção desses dois incríveis violonistas, tendo ficado mais marcado pela vibração flamenca de Baden. Tive o privilégio de conviver com estes mestres e estou sempre aberto a compartilhar com os jovens aquilo que aprendi.

A sua relação com o universo musical te acompanha desde o início da sua carreira. No momento, o você está tocando algum projeto? Há novas ideias a serem aplicadas no âmbito social?
Terminei de gravar um CD e homenagem a Vinicius, junto com Paulo Ricardo.  Está praticamente pronto, faltam alguns detalhes de mixagem. Foi um trabalho ousado, diferente e criativo, mas com todo o respeito às canções de Vinicius com seus vários parceiros: Tom Jobim, Baden Powell, Carlos Lyra, Edu Lobo e eu próprio. Minha participação no âmbito social depende de oportunidades que favoreçam essa finalidade. Estou sempre pronto para efetivar, com minha música, projetos que visam a afirmação da cidadania brasileira.

Atualmente, o você aprecia alguma revelação da música popular brasileira? Caso sim, qual seria o grupo, cantor ou cantora?
Há dois instrumentistas que merecem destaque: Yamandu e Marcel Powell. Como cantoras, Tiê e Céu; e como as duas coisas ao mesmo tempo, Badi Assad.

Há pouco mais de 40 anos você desembarcava na Argentina e cantava a "Copa do Mundo é Nossa" com Vinicius de Moraes e Maria Creuza, no show feito En la Fusa, após o título mundial conquistado pela Seleção de 1970. Em 2010, você acredita que o brasileiro vai poder dizer que com ele "não há quem possa"?
São seleções totalmente diferentes, na técnica e na vibração pela vitória.
Sei lá, a atual pode até surpreender... Tomara! Curiosamente, retorno a Buenos Aires no dia 17 de abril para cantar no Luna Park.

Para finalizar, como Toquinho definiria a vida? Alguma dica de como deveríamos levá-la? A pergunta é motivada por sua vasta obra musical, que envolve, de muitas maneiras, este "simples" assunto.
A vida é bonita. É pra viver, é pra levar. Sem conflitos e com bom humor. De preferência com um violão do lado e um amor pela frente.