quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Samba para Michell

Adaptação do Samba para Vinícius de Toquinho e Chico Buarque

Poeta, meu poeta camarada
Poeta singular,
Do bigode e do João
Perdoa essa canção adaptada
Para sua satisfação
De todo o coração,
Da bossa e do Mengão, do fundo,
Poeta, poetinha vagabundo

Malandro, desleixado,
Ri e bebe, sorri e lê
Ninguém melhor para declarar
Sua vida é escrever
Sua vida é alegrar
Michell, boêmio, saravá

Poeta, meu poeta camarada
Poeta singular,
Do bigode e do João
Perdoa essa canção adaptada
Para sua satisfação
De todo o coração,
Da bossa e do Mengão, do fundo,
Poeta, poetinha vagabundo

Um intelectual vejo em você
Ninguém melhor para declarar
Sua vida é escrever,
Sua vida é alegrar,
Michell, boêmio, saravá

Sua vida é escrever
Sua vida é alegrar
Michell, boêmio, saravá

Hailton Andrade

sábado, 8 de dezembro de 2007

Um

Em meio a tantos
Quero ser Um
Um que chame, reclame

Tantos tentam ser
Ser visto, ser lembrado
Ser Um

Não desejo ser mais um
Quero ser Um
Um único nome

Pergunto-me o que fazer
Será necessário sofrer?
Quem sabe morrer

Lutarei, hei de sofrer
Amarei, hei de chorar
Será que alguém há de lembrar?

Um dia vou
Não mais voltarei
Apenas meu nome deixarei

Lembrado serei
Um hei de ser
Um

Hailton Andrade

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Imagem: Jornal A Tarde


Eu estava lá
(Fonte Nova - 25/11/2007 - LUTO)

Tudo começou a melhorar
A torcida, eufórica, comemorava
O Bahia subiu e fez o povo se animar

Só via festa, o balançar da arquibancada
Invadiram o campo, que alegria
Só parecia

Tudo começou a desandar
Alguns torcedores a depredar
O Bahia subiu e viu a Fonte Nova se quebrar

Só soube depois
Irracional todos foram
Acabou-se a euforia

Tudo caiu, coração caiu
A Fonte deve cair
Eu que amava tanto aquele lugar

Hoje sei, agora já não dá
É melhor desabar
Para que o Bahia possa nascer

Torcedores não mais podem morrer
Vítimas se foram
A Fonte deve ir

Palavras, não há o que dizer
Explicar, não se sabe o que pensar
Entender, não há o que comemorar

Hailton Andrade

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Issanan Purifica

Ela é pura
Ela é índia
Um sorriso encantador
Ou sem sor(te) o riso

Ela não me deixa chegar
Ela não se deixa levar
Fada sem gostar
Purifica ao não se deixar

Andar meigo, Belos cabelos
Tudo segue um ritual
Expressão harmônica
Confortantemente natural

Ela não me deixa chegar
Ela não se deixa levar
Fada sem gostar
Purifica ao não se deixar

Issanan é isso mesmo
Tão pura de tão linda
Issanan é tudo isso
Tão linda de tão pura

Hailton Andrade

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Ciúme Masculino

Sentimos ciúme
Da última mulher que dançamos
Vendo-a ser convidada a bailar por outro

Sentimos ciúme
Da prostituta que pagamos
Vendo-a ser paga por outro

Sentimos ciúme
Da garota que vimos passar
Vendo-a ser olhada por outro

Sentimos ciúme
Daquela amada por nós
Vendo-a ser amada por si mesma

Hailton Andrade

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Doce Pontiagudo

Seu mel me envenenou
Você me enganou, machucou
Nos enganamos

Eu queria
Você hesitava
Ai você quis, cedeu

Eu me entreguei
Mas nada recebi
Apenas queria a mão

Companhia amiga
Nada tive
Você não sabe ser

Penso ainda
Como findou
Tudo inacabado, errado

Hailton Andrade

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Gripe Noturna

É noite
Coloco uma camisa imaginando o frio
Vou para rede com minha cabeça a mil

Uma noite
Clima quente e não frio
E ela, a gripe, consumindo-me sem piedade

Ainda é noite
Tento da gripe me livrar
Inutilmente, pois não paro de nela pensar

A noite continua
Conformo-me, pensar nela faz bem
Só tê-la no pensar não é bem bem

Hailton Andrade

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Rosainha

Maravilha rosa
No sorriso enlouqueceu-me
Felicitou meu interior angustiado

Fez-me perceber o coração
Agora rosa, antes vermelho
Sangue que virou algodão doce

Rosamente maravilhado estou
Brilhantemente harmônico ela me deixou
Libertou-me de mim

Hailton Andrade

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Meu primeiro Samba

O samba não morreu, jamais
O samba de raiz
Não desapareceu

A indústria cultural
Nunca será maior
O amor que tenho pelo samba
É incondicional
O amor ao samba
É fenomenal

O samba não morreu, jamais
O samba de raiz
Não desapareceu

O samba serve pra sambar
Sambar, amar
Amar, sambar

É tão sincero
Digo, a magia não morreu
E... nem... morrerá...

Hailton Andrade

sábado, 22 de setembro de 2007

Tristeza singela e pesada

- Triste porque amigo?
- Tanta coisa me perturba cara, não consigo explicar para ninguém o que estou passando.
- Eu sei o que há com você, é mulher né?!
- Antes fosse, elas não são problema para mim.
- Se acha hein?!
- Só fui sincero. Lidar com mulher eu sei.
- Tá bem, não está mais aqui quem falou. Então, deixe me ver, você está mal na faculdade.
- Preocupação eu tenho, é verdade. Todavia, minhas notas estão boas até agora.
- Ah, acabei de me lembrar. Você sempre fica assim quando não consegue escrever.
- Pode ser, quando não consigo me expressar... sinto-me frustrado.
- Deixa disso cara, vamos tomar um chope.
- Não me entenda mal. Não quero sair.
- Vamos lá, vamos encher a cara. Num instante você esquece tudo de ruim.
- Eu aqui carregando o sentimento do mundo e você... Nem vale a pena.
- Que porra! Você tá passando seu mal-estar pra mim véi.
- Cai fora então.
- Olha pra esse... Eu aqui querendo ajudar. Foda-se. Fui.
- Já vai tarde.

- Que bom, livrei-me daquele subconsciente desgraçado. Vê se pode, só porque ele tem acesso a dados da minha mente, acha que pode persuadir, manipular ou influenciar o gênio aqui. Agora voltarei ao meu gozo. Voltarei a pensar em tudo de ruim que há nesse mundo vazio e sem nexo. Voltarei a matar minha sede, minha fome.

sábado, 8 de setembro de 2007

Impossível

Parar de comprar
Parar de concordar
Parar de aprender
Parar de esquecer
Parar de ser
Parar...

Fingimos que não queremos parar...

Assim continuamos a pensar que somos livres.

Hailton Andrade

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Saber Naturalmente Regulado
Andando por alguns minutos, o tempo esquenta a cada passo, quero chegar em casa o quanto antes. Ainda mais agora, pensei numa história interessantissíma, pelo menos para mim. Eu não sei explicar, mas quando o clima se encontra tal qual agora eu não produzo nada, na verdade mentalizo o que penso, mas não materializo. Penso no que poderia fazer, no que farei, até no que deixei de fazer, mas não faço o que seria habitual, escrever. Quero ler, não consigo, o calor me força a deitar no sofá e ligar a tv para nada ver.
Essa preguiça me incomoda, parece que há uma arma apontada para mim e alguém diz que não posso contrariar a lei do sofá. De repente me recordo, quando chove eu leio mais, eu escrevo mais, eu sempre faço algo mais. Não é necessário que haja frio ou chova, basta o clima colaborar e me dar uns 26ºC de paz.
Essa é uma descoberta e tanto, a natureza regula meu saber. Será mesmo? Mudando o clima ela regula minha continuidade nos estudos. Difícil de entender, mas é compreensível que ela faça isso comigo, assim não vou trapacear comigo mesmo. Sempre vou parar para pensar um pouco mais no que acabei de ler e se escrevi em cumplicidade com meus princípios.
Essa caminhada aconteceu ontem, pensei em toda a história ontem, mas estava fazendo um calor... Ai já sabem, tive que esperar pelo clima ameno que só chegou hoje à noite. Agora espero a natureza, quem sabe o frio não chega, o frio inexistente da Bahia até agora, ai eu produzo mais.

quarta-feira, 25 de abril de 2007


O Aviador e Seu Avião

Hailton Andrade


O Sol surgiu naquela manhã determinando o momento da decolagem, o espaço campestre era animador para um amante do vôo livre. Damião sempre desejara voar eternamente, porém ainda não havia um combustível interminável que permitisse tal feito.
Damião possuía um bi-planador daqueles utilizados na primeira guerra mundial. Era seu companheiro de longa data, pois sempre voara junto a ele. Na hora em que decolava ele exibia um olhar sorridente para os céus como se estivesse agradecendo por poder voar mais uma vez. Assim eles iam, Damião e seu Avião, entre as nuvens escuras de tão transparentes procurando as respostas de todas as perguntas.
Seu Avião tinha história, mas nunca tivera boca para contá-las a seu dono. Damião, por sua vez, tratava o velho bi-planador como um ser racional. Todos os seus segredos foram confessos, todavia nunca ouvira um conselho ou desabafo da máquina.
Aquilo o amargurava, desejava dividir confidências e não apenas expressar. Daí, a manhã gostosa se tornaria feia. O dono do avião queria respostas e faria daquela manhã o momento de tê-las. Começou assim o diálogo de um só, o fim de ambos.

- Bom Dia. – Dissimuladamente falou.
- Tratratratratratratratratratrat... – Funcionava com esse barulho o Avião.
- Vai continuar voando e me ignorando? – Indagou Damião.
- Tratratratratratratratratratrat... – Assim continuava.
- Está no tempo, esperei demais por respostas suas. Tens a chance de esclarecer-me algumas coisas. Porque não começa me contando sobre as suas histórias de guerra?
- Tratratratratratratratratratrat...

O Aviador perguntava e se irritava cada vez mais sem as respostas almejadas. Após alguns questionamentos já gritava com o aglomerado de metal voador.

- Perdoei-te por todos os “assassinatos” cometidos naquela guerra sangrenta sem ouvir de ti alguma explicação. – Sofria Damião.
- Tratratratratratratratratratrat...
- Toda noite antes de dormir penso no que possa ter acontecido e me pergunto por que você não evitou aquilo, tantas mortes. Você tinha o comando, porque não o impedisse máquina?
- Tratratratratratratratratratrat...
- Depois de tantas reflexões eu consegui obter algumas respostas. Você é um assassino!
- Tratratratratratratratratratrat...

Damião cansara de falar sozinho e ficou quieto por alguns minutos quando passava por uma área repleta de montanhas. O Aviador estava ficando louco, pois não sabia o que se passava na suposta mente “assassina” da máquina. Ele amava o bi-planador, fazia parte de sua vida há anos e os momentos juntos sempre foram prazerosos para si. Alguns momentos se passaram e a raiva era gritante dentro do piloto. Amava-o e odiava-o, a decisão do que fazer fora tomada.

- Você não merece “viver”, pois matou. Eu também não mereço viver, pois amo você. Então hei de morrer junto a você! – Disse dramaticamente.

Naquele momento o sentimento de nostalgia já passava pela cabeça do Aviador que atirava o Avião abaixo. A descida era veloz, o motor atingiu seu pico de velocidade. A altitude baixava tão rápido como batia o coração de Damião. A hélice parava e girava fazendo uma brisa leve. Os pneus amorteciam o impacto. Assim o bi-planador sempre pousava e os dois estavam “mortos” mais uma vez.